Cérebro : A química perfeita das emoções
Como os neurônios transformam uma situação positiva em sensação agradável
Acreditar que a felicidade depende unicamente da perfeita harmonia do sistema neurológico humano seria tão equivocado quanto deixar de incluir o corpo e a mente saudáveis no conjunto de fatores responsáveis por esse estado de espírito. Todas as atividades humanas, da respiração à alimentação, da dor ao prazer, passando pela aquisição da memória, precisam ser decodificadas em diferentes partes do cérebro para que se tenha consciência delas. O transporte das informações adquiridas durante a existência é feito pelas sinapses – as conexões entre os cerca de 100 bilhões de neurônios que compõem o sistema nervoso.
1 Produção
Quando alguém passa por situações positivas ou desejadas, é estimulada a produção de uma substância chamada dopamina na região do cérebro conhecida como substância negra
2 Armazenamento
Nos terminais de alguns neurônios, a dopamina é depositada em pequenas vesículas
3 Liberação
Para transportar sinais elétricos gerados pelo estímulo, as vesículas liberam a dopamina para outros neurônios, estabelecendo ligações, as chamadas sinapses
4 Felicidade
Levados até o córtex cerebral, os impulsos elétricos transformam-se em sensação de bem-estar
Essas ligações – cerca de 10 mil por segundo – ocorrem por meio de um processo químico, pelo qual diferentes neurotransmissores – substâncias produzidas nos próprios neurônios – se encarregam de transmitir as mensagens recebidas, externa ou internamente, até a região capaz de reconhecê-las. "Como a felicidade é um sentimento complexo, difícil até mesmo de ser definido, é possível que envolva várias áreas cerebrais. No entanto, o sistema límbico, conhecido como o centro das emoções, provavelmente está mais intimamente relacionado com ela", explica o neurologista Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São Paulo.
Localizada na região central do cérebro, essa região é formada por quatro estruturas: amígdala, hipocampo, giro cingulado e fórnix. Todas se interligam, e embora não se possa atribuir a cada uma funções exclusivas, elas contribuem em maior ou menor escala para a formação de determinadas emoções. A mais relacionada à felicidade é a amígdala, envolvida com sentimentos elaborados, como amor, amizade, humor, medo e agressividade. O conjunto dessas estruturas, denominado sistema límbico, é a estação intermediária entre a região cerebral onde as emoções são recebidas, e o local onde elas são decodificadas. "No caso da felicidade, quem faz essa ponte é, sobretudo, a dopamina, responsável pela alegria e pelos sentimentos positivos." É no sistema límbico que estão disponíveis o maior número de receptores da dopamina, capazes de reconhecer essas sensações e enviá-las para o córtex cerebral, que faz com que o indivíduo tome consciência delas. Também chamado de massa cinzenta, o córtex é a camada mais superficial do cérebro, que recebe todo tipo de estímulo sensorial, dos motores aos psíquicos, e os envia para as regiões onde são transformadas em respostas adequadas, como movimentos ou reações emocionais.
O homem que mudou
Se uma pessoa sofre lesões em algumas dessas regiões do cérebro, provavelmente não responderá da mesma maneiras aos estímulos do ambiente. Um dos estudos mais famosos sobre a influência desse mecanismo nas emoções ocorreu em 1848, na construção de uma estrada de ferro em Vermont, nos Estados Unidos, e tornou-se um estudo clássico em neurologia. O supervisor da obra, um jovem de 25 anos chamado Phineas Gage, preparava uma carga de pólvora para explodir uma pedra, quando atingiu uma barra de ferro que havia dentro do buraco, causando uma explosão. O bastão de seis quilos atravessou sua cabeça. Gage não morreu, mas teve uma região do córtex cerebral seriamente danificada. Segundo relatos de seus colegas de trabalho, antes do acidente, o operário era equilibrado emocionalmente, gentil, além de inteligente e obstinado. Após o ocorrido, tornou-se anti-social, praguejador, mentiroso, passou a ter péssimas maneiras e já não conseguia manter-se em um trabalho por muito tempo ou planejar o futuro. O caso de Gage tornou-se exemplar, e a parte do cérebro que ele perdeu, os lobos frontais, passou a ser associada à expressão das emoções.
O gene da felicidade
Além dos fatores ambientais, neurológicos e sociais, a tão sonhada fórmula da felicidade também inclui componentes genéticos. A conclusão é de uma pesquisa realizada pelo geneticista e psicólogo David Lykken, da Universidade de Minnesota, e publicada em um livro de 1999 chamado Happiness (Felicidade, traduzido no Brasil pela Editora Objetiva). Lykken analisou mais de 400 pares de gêmeos idênticos e fraternais e verificou que os idênticos, mesmo crescendo em ambientes separados, apresentavam a mesma capacidade de manter o equilíbrio emocional.
O estudo apontou pequenas variações nos níveis de bem-estar causadas por diferenças de renda, sexo e outras características demográficas. A geneticista Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, concorda com os resultados obtidos por Lykken, mas pondera que a felicidade não é uma herança direta de suscetibilidade, como a cor dos olhos, ou do cabelo. É uma herança multifatorial, que depende do ambiente. Segundo ela, todo mundo possui esses genes, que regulam a quantidade dos neurotransmissores responsáveis pelas sensações de bem-estar, como a serotonina e dopamina. A diferença é que cada indivíduo produz uma quantidade diferente de neurotransmissores.
'Além da pesquisa ter fundamento, já que existem pessoas que têm tudo para serem felizes e vivem num tremendo baixo astral, e vice-versa, se for comprovado que existe realmente um componente genético no equilíbrio das emoções, pode ser um grande passo para a prevenção de doenças ligadas às emoções, como a depressão e o alcoolismo.'
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Fonte: Globo.com
29ago2009
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2009
A química perfeita das emoções
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